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  • Writer's picturePatricia Farah

Importante refletir sobre a dificuldade de peitar algumas atitudes que julgamos corretas e aplicá-las aos filhos, independente do julgamento alheio ou do que faz a mãe dos amiguinhos.


Queria dividir o quanto é difícil e trabalhoso educar (e talvez por isso muitos não o façam). Certa vez, li na coluna do Juremir Machado no Jornal Correio do Povo um texto sobre os nossos ídolos. Lá pelas tantas ele escreve o seguinte: “Se um filho nosso sai pra balada, enche a cara, cheira todas, bate o carro e é preso, vamos deixar que vá pra cadeia ou pagaremos uma cervejinha para liberá-lo? O coração de um pai não pode ficar amarrado por leis que devem ser rígidas para os outros. Os nossos ídolos dão o exemplo.” Depois disso, ele cita uma série de maus exemplos cometidos por pessoas públicas, a maioria jogadores de futebol (idolatrados pelas crianças) e que são “perdoados” tanto pela justiça como pelo crivo popular.


Não resisti em escrever sobre isso, porque tenho conversado com várias pessoas, tanto mães de pacientes como amigas mães, sobre o que estamos ensinando para nossos filhos. Será que dentro das devidas proporções, às vezes, não estamos passando a mão na cabeça dos filhos, como se pagássemos uma cervejinha pra liberá-los de algum castigo merecido?

Será que ao percebermos a adoração por um “falso ídolo” estamos atentas para explicar as crianças que apesar de “herói” aquela pessoa faz coisas que não são admiráveis e que isso não faz dele alguém a ser copiado?

Será que estamos nos questionando sobre o entendimento das crianças sobre as coisas do mundo, ou apenas estamos indo a favor da maré e deixando que a vida vá formando valores que deveriam ser direcionados por nós?

Será que estamos praticando o que realmente acreditamos ser o melhor, ou estamos entrando na onda de “todo mundo faz, todo mundo deixa, hoje em dia é assim”.


Tenho visto algumas incoerências interessantes:


Criticamos a precocidade das meninas, mas incentivamos e permitimos que aos 5 ou 6 anos elas comemorem o aniversário num salão de beleza, onde depois de penteadas, maquiadas e de unhas feitas, não podem brincar nem correr pra não perder a produção. Lembro que adorava me vestir com roupas e sapatos de salto alto da minha mãe. E maquiar escondido então, era a glória. Mas antes de ser apedrejada por alguma leitora mais moderna que eu, queria refletir se ao estimularmos estas atitudes tão cedo não estamos afastando cada vez mais nossas filhas da infância. É natural que as meninas brinquem de adultas e adorem isso. Mas isso não pode acontecer naturalmente?


Não queremos filhos egoístas, mas oferecemos um ambiente onde cada um tem seu quarto, seu banheiro, sua televisão, seu computador, seus brinquedos sem precisar dividir nada, nem esperar a sua vez ou a hora certa pra usar. Podendo respeitar apenas a sua própria vontade.


Trabalhamos muito e cada vez mais pra poder “dar tudo e o melhor aos filhos”. Mas quando vamos ao pediatra precisamos levar a babá, para que ela informe o que nosso filho come, quando dorme, ou simplesmente porque ele se comporta melhor com ela do que conosco.


Queremos filhos saudáveis. Mas não vemos mal nenhum em oferecer refrigerante na mamadeira.


Reclamamos que os filhos “mandam na casa”, mas não ensinamos a eles a dividir a televisão, por exemplo. Ou seja, enquanto a criança estiver acordada não se pode assistir a nenhum telejornal. Só se vê desenhos. Me pergunto: é medo de ver o filho chorar ao ver seu canal retirado do ar? É falta de paciência de ter que dizer todos os dias (sim, todos os dias!) que naquele momento é o programa do pai e da mãe? Ou não se pensa nisso, afinal quem tem criança em casa é assim mesmo e… melhor perder as notícias do que aguentar filho chorando.


Crianças “se criam” sozinhas. Mas não “se educam” sozinhas!


Minha grande dúvida é se estamos realmente conscientes do nosso papel e da importância das nossas atitudes ou se estamos apenas seguindo o fluxo.


E como escreveu alguém em algum lugar: “Nos preocupamos em deixar um mundo melhor para os nossos filhos, mas será que estamos deixando filhos melhores pro mundo?”





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  • Writer's picturePatricia Farah

Updated: Oct 28, 2022

Cada vez mais percebemos a necessidade de olhar para as pessoas de forma integral. Com a fala e linguagem das crianças não é diferente.


Primeiro, de forma simples, vamos definir que linguagem é o que a criança “tem para dizer”, é o conteúdo. E a fala é a expressão oral da linguagem. A linguagem se forma muito antes da primeira palavra aparecer. Ela é construída em cada olhar, cada sorriso, cada palavra dita para a criança ainda bebê. Por volta de 1 ano, a criança começa a arriscar as primeiras palavras, imitando sons que ouve dos adultos.


A construção da fala acontece dentro de um processo onde é normal algumas trocas ou substituições enquanto os processos fonológicos não estão adquiridos. Portanto é natural que a criança diga

/m o l a n g o / ou

/ m o i a n g o / antes de dizer

/ morango/.


O fato é que até os 4 anos e meio todos os processos tem condições de estarem instalados. Algumas crianças de 5, 6, 7, 8 anos ou mais , seguem com trocas e é comum comentários do tipo:

- O pai dele também demorou.

- Meninos são mais lentos.

- Cada um tem seu tempo.

Sim, cada um tem seu tempo. Mas aí vamos olhar pra essa criança como um ser INTEIRO.


Pensa numa criança feliz, alegre que se expressa divertidamente e é entendida pela família, apesar das omissões/substituições na fala. Na escola, em contato com outras crianças que não tem o mesmo entendimento da família, pode se sentir envergonhada da dificuldade, independente de ter sido apontada pelos outros ou pela própria comparação.


No consultório fonoaudiológico, é comum aparecer adultos com gagueira, por exemplo, que relatam pânico de ler em voz alta na escola porque não tinham a mesma habilidade que outros colegas. Nesses casos, aquela criança que era alegre e expressiva passa se sentir envergonhada e insegura.


Nem todas as crianças se sentem desta forma. E, por isso, é tão importante esse olhar além da fala propriamente dita, para entender o que se passa com cada um.

A fala nos representa, nos coloca no mundo. Nos aproxima e também nos afasta dos outros.


A escola é um espaço rico de trocas e experiências que levamos para vida toda.

Estar atento a fala e ao sentimento da criança com desvio fonológico é muito mais do que estar preocupado se ela diz

/ m o l a n g o /,

/ m o i a n g o / ou

/ m o r a n g o /.




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