Quando a fala nos define
- Patricia Farah
- Sep 13, 2022
- 2 min read
Updated: Oct 28, 2022
Cada vez mais percebemos a necessidade de olhar para as pessoas de forma integral. Com a fala e linguagem das crianças não é diferente.
Primeiro, de forma simples, vamos definir que linguagem é o que a criança “tem para dizer”, é o conteúdo. E a fala é a expressão oral da linguagem. A linguagem se forma muito antes da primeira palavra aparecer. Ela é construída em cada olhar, cada sorriso, cada palavra dita para a criança ainda bebê. Por volta de 1 ano, a criança começa a arriscar as primeiras palavras, imitando sons que ouve dos adultos.
A construção da fala acontece dentro de um processo onde é normal algumas trocas ou substituições enquanto os processos fonológicos não estão adquiridos. Portanto é natural que a criança diga
/m o l a n g o / ou
/ m o i a n g o / antes de dizer
/ morango/.
O fato é que até os 4 anos e meio todos os processos tem condições de estarem instalados. Algumas crianças de 5, 6, 7, 8 anos ou mais , seguem com trocas e é comum comentários do tipo:
- O pai dele também demorou.
- Meninos são mais lentos.
- Cada um tem seu tempo.
Sim, cada um tem seu tempo. Mas aí vamos olhar pra essa criança como um ser INTEIRO.
Pensa numa criança feliz, alegre que se expressa divertidamente e é entendida pela família, apesar das omissões/substituições na fala. Na escola, em contato com outras crianças que não tem o mesmo entendimento da família, pode se sentir envergonhada da dificuldade, independente de ter sido apontada pelos outros ou pela própria comparação.
No consultório fonoaudiológico, é comum aparecer adultos com gagueira, por exemplo, que relatam pânico de ler em voz alta na escola porque não tinham a mesma habilidade que outros colegas. Nesses casos, aquela criança que era alegre e expressiva passa se sentir envergonhada e insegura.
Nem todas as crianças se sentem desta forma. E, por isso, é tão importante esse olhar além da fala propriamente dita, para entender o que se passa com cada um.
A fala nos representa, nos coloca no mundo. Nos aproxima e também nos afasta dos outros.
A escola é um espaço rico de trocas e experiências que levamos para vida toda.
Estar atento a fala e ao sentimento da criança com desvio fonológico é muito mais do que estar preocupado se ela diz
/ m o l a n g o /,
/ m o i a n g o / ou
/ m o r a n g o /.

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